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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Curiosidade: O corvo mais inteligente já resolve um quebra-cabeça de 8 estágios


Em um especial recente da BBC, o Dr. Alex Taylor provou ao mundo que, se há qualquer animal que possa se levantar contra a humanidade e dominar o mundo, este é o corvo. Na experiência, Taylor configurou um quebra-cabeça complexo em que o corvo tinha para completar 8 estágios em uma ordem específica para ganhar acesso a um pedaço de comida. Incrível é que o corvo selvagem do experimento, chamado "007" por causa de sua astúcia, nunca tinha visto os objetos dispostos juntos antes.

O caso é que quando pensamos em animais antropomorficamente inteligentes, as primeiras espécies que nos vêm à memória são provavelmente os golfinhos, os chimpanzés, ou talvez nossos inseparáveis parceiros: os cães ou os gatos. No entanto, poucos são os que costumam nomear outras classes de inteligência como os polvos ou os protagonistas de desse artigo: os corvos.

É verdade que há muito tempo, já presentes nas fábulas de Esopo, os corvos sempre foram considerados animais astutos e hábeis. Mas a realidade, como costuma acontecer frequentemente, resulta bem mais fascinante do que aquilo que os contos e mitos nos oferecem. Por trás da imagem de ladrões sibilinos e oportunistas proporcionado pela ficção e lenda, se encontra uma das inteligências mais surpreendentes que existem no reino animal.

Nas últimas décadas os biólogos colocaram a prova a destreza e recursos de numerosas espécies de corvídeos e os resultados foram estampar as capas das revistas científicas mais prestigiadas do mundo, até ao ponto de que se converteram na primeira demonstração de animais não primatas capazes de fabricar ferramentas.

Veja o vídeo explicando a experiência feita com o corvo "007":

domingo, 29 de junho de 2014

Artigo: Produção de serrapilheira e ciclagem de nutrientes de uma floresta estacional semidecidual em zona ripária

Autores: Ana Rosa Tundis Vital, Iraê Amaral Guerrini, Wolfram Karl Franken e Renata Cristina Batista Fonseca.
Periódico: Revista Árvore
Ano de Publicação: 2004

Petiano Responsável: Ingrid Fontes


Imagem: Serrapilheira
A serrapilheira vista por muitos como apenas um amontanhado de folhas, galhos, frutos, flores e demais componentes da matéria orgânica que se depositam no solo, apresenta-se de tamanha importância para a ciclagem dos nutrientes, exercendo inúmeras funções nos ecossistemas. Parte do processo de retorno de matéria orgânica e de nutrientes para o solo se dá através da produção de serrapilheira, sendo esta considerada o meio mais importante de transferência de elementos essenciais da vegetação para o solo. O presente estudo foi realizado em um ecossistema de Mata Ciliar, do tipo floresta estacional semidecidual, na região centro sul do estado de São Paulo. A área experimental utilizada para o estudo foi um trecho de floresta estacional semidecidual, chamada de Mata do Bexiguento. Para quantificar a quantidade de serrapilheira foram utilizados quatro coletores de 1 m² de superfície, instalados individualmente e distribuídos de forma causalizada em parcelas de 100 m². Para estimar a quantidade de serrapilheira produzida foram realizadas 12 coletas, com intervalo de 30 dias, no período experimental. A produção de serapilheira foi estimada em 10.646,1 kg.ha-1.a-, alcançando seu valor máximo no período seco. A transferência total de macronutrientes foi de 217,76 kg.ha-1 de nitrogênio, 11,55 kg.ha-1 de Fósforo, 52,79 kg.ha-1 de Potássio, 199,80 kg.ha-1 de Cálcio e 38,70 kg.ha-1 de Magnésio. Desta forma, afirma-se mais uma vez a grande importância da serrapilheira para o equilíbrio ecológico e a grande quantidade de elementos essenciais que a mesma transfere para o solo.

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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Evento: III Encontro Pernambucano de Resíduos Sólidos - III EPERSOL


O Grupo de Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe/UFRPE) realiza, nos dias 27 e 28 de Agosto, o III Encontro Pernambucano de Resíduos Sólidos (III Epersol), no Prédio Prof. Vasconcelos Sobrinho (Ceagri II) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). 

O evento contará com a presença de especialistas na temática resíduos sólidos que trarão diagnósticos, projeções, novas metas e documentos legais que nortearão a discussão nos dois dias do encontro.

Estarão presentes, além de pesquisadores da UFRPE, profissionais que atuam diretamente no cenário dos resíduos sólidos e no desenvolvimento de pesquisas. Haverá apresentação de casos de relevante importância na gestão desses resíduos no Brasil e em outros países. 

O III Epersol contará ainda com minicursos, coffee break, sorteios de livros, além de um ponto de coleta de resíduos sólidos eletroeletrônicos para um descarte ambientalmente adequado.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Notícia: Brasil proíbe pesca de piracatinga na Amâzonia até 2020 em prol da conservação do boto-vermelho

Boto-vermelho da Amazônia
Em conjunto, os ministérios do Meio Ambiente (MMA) e Pesca e Aquicultura (MPA) assinaram instrução normativa que proíbe a pesca e comercialização da piracatinga (Calophysus macropterus) na Amazônia pelos próximos cinco anos. A moratória passa a valer a partir de janeiro de 2015.

Muito apreciada na Colômbia, a piracatinga é um peixe desvalorizado no Brasil por se alimentar de animais em decomposição. Para capturá-lo, pescadores utilizam golfinhos amazônicos - em especial o boto-vermelho (Inia geoffrensis), também conhecido como boto-cor-de-rosa - e jacarés como isca.

A medida é uma vitória da conservação do boto-cor-de-rosa, afirma Sannie Brum, pesquisadora do Instituto Piagaçu (IPI).

Estimado em 15 toneladas anuais, o volume de pesca da piracatinga provoca a morte de 66 a 144 botos por ano, revela o estudo desenvolvido por Sannie. Na teoria, o limite seguro de mortes é apenas de 16 espécimes.

Além disso, a reprodução lenta é uma característica da espécie que contribui para sua vulnerabilidade. "Após cerca de dez meses de gestação a mãe pode cuidar de seu filhote por até quatro anos, então a inserção de outro boto na natureza é demorada", diz Sannie.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Artigo: Uso de Espécies Nativas e Exóticas na Restauração de Matas Ciliares no estado de São Paulo (1957 - 2008)

Autores: Geissianny Bessão de Assis, Marcio Seiji Suganuma, Antônio Carlos Galvão de Melo e Giselda Durigan.
Periódico: Revista Árvore
Ano de Publicação: 2013

Petiano Responsável: Élyda Passos
Mata ciliar de área pública no Município de São José dos Campos, SP
Inicialmente, o processo de restauração deixava a desejar em relação a origem e riqueza das espécies. Ou seja, espécies nativas e exóticas eram plantadas sem maiores restrições. Ao longo do tempo, esse processo se tornou um pouco mais rigoroso e abrangente quanto a diversidade, dinâmica do ecossistema. Este estudo, então, visou identificar as mudanças no número de espécies nativas e exóticas utilizadas na restauração de matas ciliares utilizadas em 44 projetos, localizados no estado de São Paulo, implantados de 1957 a 2008. A região era ocupada por Floresta Estacional Semidecidual (FES). O levantamento das árvores plantadas, em cada local, foi realizado em área total de 1000 m², subdividida em parcelas aleatoriamente distribuídas. As espécies foram classificadas em exóticas quando não ocorriam de forma natural em região de Floresta Estacional Semidecidual. Todos os plantios analisados apresentaram espécies exóticas, variando de 12 a 58 o número total de espécies amostradas. Entre 2000 a 2008 foi observado maior riqueza de espécies plantadas quando comparado com as décadas de 70,80 e 90. Apesar de normas voltadas para o processo de restauração e busca pela diversidade, constatou-se que o aumento do plantio de espécies nativas foi acompanhado pelo plantio de espécies exóticas. Sendo assim, além de avaliar a evolução na atividade de restauração foi constatado a importância do desenvolvimento de ações para maior fiscalização desde a produção de mudas até o ato do plantio, além de treinamento adequado para profissionais envolvidos com todas as atividades de restauração ecológica.

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terça-feira, 24 de junho de 2014

Curiosidade: Pontes verdes permitem que animais atravessem estradas com segurança

Quando estradas e ferrovias são construídas em meio a florestas e a áreas de preservação ambiental, como garantir a segurança e a saúde dos animais silvestres da região? Assim como existem passarelas para que pedestres circulem em auto-estradas, na década de 50 foram criadas as pontes verdes, passarelas ambientadas para que animais possam transitar com liberdade e, acima de tudo, com segurança.

Conhecidas por especialistas como ecodutos, as pontes são montadas com vegetação e terra, de forma a imitar o ambiente da região e permitir a vida de insetos, pássaros e diversos outros animais. Esse tipo de construção está presente em países como a Alemanha, a Suíça, os Estados Unidos e o Canadá, sendo a mais famosa delas chamada de Natuurbrug Zanderij Cariloo, localizada na Holanda, e que conta com mais de 800 metros de extensão, passando por cima de uma auto-estrada, uma via férrea, um rio e um complexo esportivo.

Conheça alguns dos ecodutos mais incríveis do mundo:

Washington, Estados Unidos
Foto © WSDOT

The Borkeld, Holanda
Foto © Zwarts & Jansma

Holanda
Foto © Henri Cormont


Banff National Park, Canadá
Foto © Joel Sartore


Passagem para caranguejos na Austrália

Foto © Christmas Island National Park


Confira outras pontes verdes pelo mundo no site: http://www.hypeness.com.br/

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Artigo: Fitoplâncton como bioindicador de eventos extremos na bacia do rio Una, Pernambuco, Brasil

Autores: Ariane Silva Cardoso, Silvio Mario Pereira da Silva Filho, Anthony Epifanio Alves, Cacilda Michele Cardoso Rocha, Maristela Casé Costa Cunha.
Periódico: Revista Brasileira de Geografia Física
Ano de Publicação: 2013

Petiano Responsável: Cecília Craveiro


Rio Una no Município de Palmares, PE.
Foto: Josué Francisco, 2011.
A bacia do Una suportou desastres ambientais causados por enchentes nas últimas décadas, o que fez com que houvesse a destruição de várias cidades. Devido a isso, o governo do estado de Pernambuco desenvolveu um sistema de controle a enchentes, realizando a construção de quatro barragens de contenção, sendo elas: Serro Azul, Igarapeba, Panelas II e Lagoa dos Gatos. Realizou também o represamento e regularização de abastecimento de água nas cidades entorno da bacia. Por outro lado, o represamento provoca alterações na qualidade da água, na composição química do sedimento, na circulação, nas comunidades biológicas, e na dinâmica do rio e suas comunidades bióticas. Os fitoplanctons são excelentes bioindicadores das condições ambientais e da saúde do meio aquático, sobretudo, em relação à qualidade da água. A partir disso, o presente estudo teve como objetivo avaliar o fitoplâncton como bioindicador da qualidade da água para a bacia do rio Una, após a ocorrência de um evento climático extremo, servindo como subsídio para monitoramentos futuros. Foram fixadas e georeferenciadas vinte e cinco estações de amostragem para o fitoplâncton, localizados na Bacia do Rio Una, no estado de Pernambuco – Brasil, sendo elas: Barra de Guabiraba, Serro Azul, Panelas II, Gatos e Igarapeba. Para o levantamento das comunidades fitoplanctônicas, foram obtidas amostras no momento anterior a construção das barragens, que foram triadas conforme metodologia padrão. Características morfológicas foram utilizadas para comparação com bibliografia especializada, que possibilitou a identificação dos táxons planctônicos. Nas bacias monitoradas, foram identificados 45 táxons infragenéricos de organismos fitoplanctônicos pertencentes ao grupo das Ochorophyta (40%), Chlorophyta (20%), Charophyta (20%), Cyanophyta (13%) e Euglenophyta (7%). A divisão Ochrophyta (diatomáceas) com 18 gêneros, totalizando 40% dos táxons identificados, sendo a mais representativa com relação à riqueza e frequência de ocorrência. O grupo Euglenophyta, foi o menos expressivo, ocorrendo três táxons e representando a menor riqueza. Quanto à distribuição dos táxons por empreendimento, nas barragens de Serro Azul e Igarapeba foram registradas o maior número de táxons, 23 e 19, respectivamente. Os resultados obtidos no estudo mostram a importância do fitoplâncton como bioindicador das condições ambientais, após a ocorrência das fortes chuvas ocorridas na bacia do rio Una durante 2011. Reforça também, a importância do monitoramento ambiental nas represas dos rios, sendo este monitoramento fundamental, pois a presença de alguns organismos nocivos, podem inviabilizar a utilização da água represada.

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domingo, 22 de junho de 2014

Entrevista: "Se for exótica atire primeiro e pergunte depois", diz Simberloff

   Fernando Fernandez e Bernardo Araujo - 17/06/14
Daniel Simberloff em palestra durante a XVIII Semana da Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Foto: Rafael Martins de Souza Costa

"Se for exótica atire primeiro e pergunte depois”, diz o professor de Ciências Ambientais da Universidade do Tennessee, Daniel Simberloff, que foi entrevistado pelo site oeco.org.br
Depois de completar seu doutorado na Universidade de Harvard sob a orientação de Edward Wilson, Simberloff se tornou um dos mais importantes e conhecidos ecólogos do mundo ao longo das últimas décadas. Ao longo de sua trajetória, ele esteve envolvido em diversas discussões a respeito de teorias ecológicas, muitas delas com amplas consequências para a conservação da natureza. Recentemente, ele esteve no Brasil como palestrante convidado na XVIII Semana da Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e concordou em dar uma entrevista para ((o))eco.

Segue abaixo a entrevista:

FF: Um argumento que tem sido utilizado por pessoas que defendem a maior importância de reservas muito grandes, como Terborgh e Carlos Peres, é que apenas grandes reservas podem preservar comunidades completas, incluindo predadores de topo e tudo mais.

"Grandes reservas são ótimas. Meu argumento é que frequentemente um conjunto de pequenas reservas vai ter tanta biodiversidade quanto, ou até mais biodiversidade, que uma reserva grande."

DS: Isso é provavelmente verdade em alguns casos. Eu não duvidaria. Grandes reservas são ótimas. Meu argumento é que frequentemente um conjunto de pequenas reservas vai ter tanta biodiversidade quanto, ou até mais biodiversidade, que uma reserva grande. A ideia de que existe um efeito espécies-área não significa que reservas pequenas são automaticamente inviáveis. Mas é claro que para espécies como grandes carnívoros existe um limite de quão pequena uma reserva pode ser para abrigá-los e conservá-los. O argumento é válido, mas é apenas um entre muitos que devem ser considerados quando se tenta decidir qual o sistema de reservas ideal para se pôr em prática.

FF: Talvez a mensagem que deva ser levada para casa pelas pessoas das instituições que trabalham com reservas no Brasil, por exemplo, é que grandes reservas são de fato importantes, mas que não existe motivo para não se reconhecer o valor e a necessidade de pequenas reservas também.

DS: Esse é exatamente o meu ponto.

FF: Bernardo, você gostaria de fazer uma pergunta sobre rewilding?

Bernardo Araujo: Sim, sim. Eu acredito que já saiba qual vai ser a resposta, mas...

DS: (Risos) Você pode fazer sua pergunta e respondê-la então.

BA: (Risos) Você falou mais cedo em sua palestra a respeito dos perigos da introdução de espécies. Então o que você pensa a respeito das propostas de resselvajamento do Pleistoceno [Pleistocene Rewilding] que tem sido feitas nos últimos anos?

DS: Ah, sim! E qual você acha que será minha resposta?

BA: Que você não gosta nem um pouco delas.

DS: Você está certo. Eu não gosto delas por vários motivos, mas o principal é que toda evidência sobre espécies invasoras nos mostra que existem todo o tipo de consequências não intencionais. Inclusive, por vezes, na reintrodução de espécies que são nativas, dependendo de há quanto tempo elas estiveram ausentes e de como a comunidade que persistiu se adaptou à sua ausência.  O resselvajamento envolve a introdução de espécies análogas às que não existem mais. É claro que isso é uma ideia inspiradora. Como alguém poderia não se entusiasmar com a ideia dessas grandes regiões sendo repovoadas por algo como sua fauna completa de organismos? Mas isso seria extremamente caro e passível de consequências não intencionais de introduções que não funcionariam, fazendo com que as espécies introduzidas desaparecessem e afetando espécies nativas de formas danosas e imprevisíveis. Eu não gosto da ideia.

BA: Eu concordo com você nesse ponto, e creio que o Fernando também concorde.

FF: Sim, sim.

DS: E outra coisa. É muito excitante pensar em poder ver um mamute lanoso. Mas se pudéssemos tê-lo, o que faríamos com ele? Onde o colocaríamos? Eu acredito que existam algumas espécies que, se conseguíssemos reconstruir, então poderíamos salvar, como a pomba migratória ou o periquito da Califórnia. Se conseguissem reconstituir o lobo-da-Tasmânia, ou tilacino, estaríamos mais conscientes agora, e ainda existe habitat suficiente na Tasmânia para acomodá-lo. Mas para a maior parte dos animais extintos isso seria muito, muito caro, e o melhor lugar onde eles poderiam ser postos é um zoológico. Então, a ideia não me anima. Existem entusiastas do resselvajamento no Brasil?

FF: Sim. Ele já foi proposto para o Pantanal brasileiro pelo biólogo da conservação brasileiro Mauro Galetti. Também já houve um projeto privado gigantesco no Tocantins, se me lembro bem, envolvendo uma área de dezenas de milhares de hectares onde pretendia-se liberar uma grande variedade de grandes animais africanos.

DS: Wow. Isso é um exemplo de resselvajamento de verdade com todo tipo de consequências horríveis. Imagine o número de patógenos que eles poderiam acabar trazendo, por exemplo. Mesmo com os melhores métodos sanitários eles provavelmente já causariam problemas apenas devido a isso. Além de impactos a espécies nativas através de diversos outros meios. Não existem leis no Brasil que impediriam isso?

BA: Sim, acredito que esse projeto tenha sido cancelado.

FF: A outra coisa que gostaria de perguntar é a respeito de sua palestra de hoje, porque você falou sobre as questões sobre invasões biológicas. Eu acredito que aqui no Brasil a visão estabelecida é que espécies invasoras devem ser controladas porque trazem diversos problemas sérios para a conservação. Dessa forma, a política em reservas do Brasil tem sido sempre controlar espécies exóticas a qualquer custo. Mas agora algumas pessoas estão trazendo uma nova visão de que em muitos casos espécies exóticas podem ter efeitos benéficos para a conservação.

DS: Como o porco monteiro no Pantanal?

FF: Sim, exato, e muitos outros. Um exemplo na Austrália é o dingo, que supostamente controla a população de predadores exóticos menores como raposas e gatos, beneficiando os marsupiais e os pequenos roedores.

DS: O dingo está na Austrália há mais de quatro mil anos. Ele é uma questão diferente. O quoll [marsupial nativo] aparentemente se adaptou bem à sua presença. A introdução do dingo é muito antiga. O porco monteiro aqui é uma introdução muito mais recente.

FF: Sim, cerca de cento e cinquenta anos.

"Eu tenho uma palestra sobre isso, onde abordo todos esses exemplos de invasões que supostamente ajudam a conservação, caso a caso, e mostro que cada um deles possui desvantagens além das vantagens previamente apontadas, e algumas delas são desvantagens tremendas."

DS: Eu li os artigos que dizem que ele protege o cateto e o queixada porque as pessoas preferem caçá-lo, mas ainda não vi nenhum dado real acerca de impactos populacionais nessas duas espécies de porcos nativos. Primeiro, é necessário que haja alguma ciência de verdade aqui. Em segundo lugar, existem tantas coisas que o porco monteiro faz: eles arrancam raízes, e atacam espécies que possuem raízes carnosas e tubérculos, frequentemente eliminando-as localmente; eles misturam camadas orgânicas e minerais no solo alterando a sucessão de plantas; eles comem fungos, e podem espalhar fungos micorrízicos que podem ser úteis para plantas invasivas como fazem na região patagônica dos Andes; e eles comem tudo, desde ovos de pássaros que nidificam no chão até anfíbios, eles são onívoros. Então, alguém teria que estudar esse caso com muito cuidado e olhar para todos os variados impactos no pantanal para dizer que os porcos monteiros de fato auxiliam na conservação. E eu diria que isso é verdade para qualquer um desses exemplos de espécies invasoras que ajudam na conservação. Eu não diria que não existe nenhuma, mas é fácil demais olhar para apenas um efeito e dizer “olhe, isso é bom”. Eu tenho uma palestra sobre isso, onde abordo todos esses exemplos de invasões que supostamente ajudam a conservação, caso a caso, e mostro que cada um deles possui desvantagens além das vantagens previamente apontadas, e algumas delas são desvantagens tremendas. Então, talvez pudéssemos dizer a mesma coisa a respeito do porco monteiro no Pantanal. Dizem que ele está ajudando as duas espécies de porcos nativos, mas eu gostaria de ver os dados reais mostrando um impacto populacional nessas espécies. Só porque os caçadores estão atirando nos porcos monteiros isso não significa que as populações de catetos e queixadas estão se beneficiando.

FF: Talvez a ideia seja que as populações de catetos e queixadas estejam melhor no Pantanal do que em outras regiões do Brasil, porque, especialmente no caso do queixada, estão se tornando muito escassas em outras regiões do país. Mas isso não significa que é necessariamente devido ao porco monteiro.

DS: Sim, esse seria meu argumento.

FF: Então, se você pudesse dar um conselho bem curto para administradores de reservas no Brasil sobre qual política adotar para espécies invasoras, o que você diria a eles?

DS: Atire primeiro e pergunte depois. O motivo disso é que muitas espécies introduzidas trazem consequências que não reconhecemos a tempo. Outras sequer se espalham. Elas se mantêm restritas e, de repente, depois de décadas, começam a se espalhar e a ter grandes consequências. Uma terceira razão é que frequentemente, logo após a invasão, quando você reconhece uma invasora, é possível se livrar dela, e esse processo não custa tanto no início. Mas uma vez que ela se espalha, pode se tornar impossível, ou ao menos extremamente caro contornar o problema. Então, por que arriscar? A política deveria ser não introduzir, e se você reconhecer o início de uma invasão, livre-se da espécie em questão. Se é uma espécie que se estabeleceu há centenas de anos, ou uma que já está amplamente distribuída, então você tem que pensar a respeito dos prós e contras e na viabilidade de manejo da mesma. Mas quando uma invasão recente é descoberta em uma reserva, não se incomode em estudar os impactos. Acredito que se deva livrar dela imediatamente.

FF: Muito obrigado, professor Simberloff. Essa entrevista nos foi muito útil.

DS: Eu que agradeço.

Fernando Fernandez e Bernardo Araujo, repórteres por um dia para ((o))oeco. (Nota da redação: esperamos que se tornem muitos dias)


Termos usados nessa entrevista:

Teoria da biogeografia de ilhas: descreve os fatores que controlam a riqueza de espécies (número de espécies) em ilhas. Mais tarde, essa mesma teoria foi utilizada para investigar os fatores que influenciam a riqueza de espécies em fragmentos florestais, reservas biológicas e outros ambientes isolados.

Aleatoriedade demográfica: diz respeito ao efeito do acaso sobre características demográficas de uma população pequena que podem levá-la a extinção.

Relação espécies-área: também chamada de "curva espécies-área", é a relação entre a área de um dado habitat e o número de espécies que ele abriga.

Aninhamento: padrão de organização de comunidades biológicas onde algumas espécies estão presentes em todas as comunidades e outras apenas em comunidades sucessivamente mais ricas em espécies.

Fixação da razão sexual: trata-se da proporção entre machos e fêmeas em uma população. Ocorre quando há a perda de todos os indivíduos de um dos sexos em uma população.

Depressão endogâmica: diz respeito à redução da capacidade de sobrevivência dos indivíduos de uma população como resultado de endogamia, ou seja, repetidos cruzamentos entre indivíduos aparentados.

Deriva gênica: alteração das frequências de genes de uma determinada população devido ao acaso.

SLOSS (do inglês "single large or several small"): a sigla SLOSS (que pode ser traduzido como "uma grande ou várias pequenas") se refere a um longo debate travado em meio à literatura ecológica ligada à biologia da conservação, nas décadas de 70 e 80, a respeito de qual seria a melhor estratégia para o delineamento de reservas, especialmente em habitats fragmentados, para a manutenção da biodiversidade: demarcação de uma única reserva grande ou a de diversas reservas pequenas.

Estrutura trófica: diz respeito à organização de uma teia "alimentar", que inclui todos os organismos desde sua base de plantas e outros produtores primários até o seu topo, com os grandes predadores.

Resselvajamento (ou "rewilding", do inglês): diz respeito à reintrodução de proxies (espécies proximamente "aparentadas") de espécies já extintas em determinada região com o intuito de restaurar paisagens ou processos ecossistêmicos existentes no passado, quando tais paisagens e ecossistemas ainda não haviam sido influenciados pela chegada do Homo sapiens. Um exemplo seria a reintrodução de elefantes no lugar de mamutes e mastodontes na América do Norte.



sábado, 21 de junho de 2014

Notícia: Publicada portaria que aprova plano nacional de conservação da onça-pintada

Objetivo do plano é conservar a população desta espécie em todo o Brasil.
Foto: André Natale
O governo federal publicou nesta sexta-feira (20) no Diário Oficial da União portaria que valida o Plano de Ação Nacional para conservação das onças-pintadas, com o objetivo de implementar iniciativas para proteger a espécie, ameaçada de extinção.

O foco principal do plano é conseguir, até junho de 2017, reduzir a perda e fragmentação dos habitats desses felinos, além de diminuir o número de mortes causadas pela caça esportiva, preventiva ou mesmo para segurança pessoal. Além disso, vai disseminar informações necessárias para conservação da espécie.

Criado em 2009, deve ser implementado ainda este ano pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que designou o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP) como responsável pela implantação.

“A publicação da portaria valida o trabalho desenvolvido em parceria com a sociedade e estabelece as diretrizes de governo para a conservação da espécie”, explica Ronaldo Morato, coordenador do Cenap.

Habitat fragmentado

Na Mata Atlântica, nos últimos 15 anos houve perda de 80% da população efetiva. Entre as causas para esta redução está o desenvolvimento dos centros urbanos, que fragmenta áreas verdes necessárias para a sobrevivência das onças e eleva o risco de desaparecimento na região costeira do Brasil. Além disso, há ainda o desmatamento ilegal.

Na Caatinga, outro bioma crítico para as onças, a eliminação de indivíduos por caça e retaliação por predação de animais domésticos e gado é uma “grande ameaça”, conforme o estudo, e causa uma redução drástica de animais na região. A pesquisa sugere a existência de 250 onças-pintadas com capacidade de reprodução nesta região.

No Cerrado, onde a situação da onça-pintada está na categoria “em perigo”, há estimativa de que existam 250 espécimes que conseguem se reproduzir e gerar descendentes. De acordo com o estudo, as onças existentes estão espalhadas pelo bioma e já está comprovado um declínio populacional em consequência de atividades humanas.

No Pantanal, a classificação está no patamar "vulnerável" e a população de onças é estimada em mil indivíduos.

Via: Renctas
Fonte: Portal Globo.com - G1
Diário Oficial - Sexta-feira, 20/06/2014 : Clique aqui para visualizar

Notícia: Novo tipo de plástico reciclável é criado por "acidente" por pesquisadores americanos

Pesquisadores americanos criaram por acidente uma nova variedade de plástico reciclável, segundo estudo publicado na revista Science. A descoberta poderá ser usada para fazer peças rígidas e gelatinosas e aplicada na fabricação de carros, aviões e eletrônicos mais baratos e menos poluentes. Jeanette Garcia, do centro de pesquisa da IBM em San Jose, nos Estados Unidos, descobriu o novo tipo de plástico ao esquecer e incluir um dos três componentes de uma reação química para produzir um tipo de plástico conhecido como "thermoset". "Acabei com esse pedaço de plástico na mão e tinha que descobrir o que era", disse Garcia à BBC. "A primeira coisa que fiz foi pesquisar a literatura científica para ver se isso já tinha sido feito antes, porque achava que sim já que se tratava de uma reação química bastante simples." Por ser leve e resistente, o plástico "thermoset" é usado em carros modernos e aeronaves, muitas vezes misturado a fibras de carbono. Mas nenhum tipo deste plástico podia ser reciclado - até agora. A nova variedade pode ser dissolvida em ácido, o que a reverte a seus componentes originais, que podem ser reutilizados.

Fonte: Consumidor Consciente - Via BBC

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Notícia: Nova espécie de samambaia descoberta no Parque Nacional da Serra da Bocaiana

Uma nova espécie da planta samambaia foi descoberta na parte alta do Parque Nacional da Serra da Bocaina, município de São José do Barreiro, divisa entre São Paulo e Rio de Janeiro. A novidade foi publicada em um artigo da revista Systematic Botany, assinado por Claudine Mynssen, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e Lana Sylvestre, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A espécie recebeu o nome científico de Diplazium brachycarpum. A planta tem folhas grandes, que ultrapassam dois metros de comprimento, e pode ser vista em locais com grande circulação de turistas, como às margens da "trilha do ouro" ou "caminho de mambucaba", ambos dentro da Unidade de Conservação (UC).

Além da Bocaina, a nova samambaia também foi encontrada nos estados de Minas Gerais e Santa Catarina em florestas úmidas de montanha, mas fora das áreas protegidas. De acordo com Mara Pais, chefe do Parque Nacional, por conta disso a espécie pode desaparecer nessas áreas devido aos desmatamentos e quimadas. "Daí a decisão de classificá-la como vulnerável em termos de conservação. Isso aumenta a importância do Parque Nacional Serra da Bocaina em relação à proteção da espécie", disse.

Fonte: ICMBio

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Notícia: Descoberta nova espécie de cobra-coral na Mata Atlântica

Uma cobra coral verdadeira coletada numa pequena área preservada na capital da Paraíba é a mais nova espécie de serpente conhecida no país. A espécie descrita na edição de abril da revista Zootaxa mostra como a rica biodiversidade da maltratada Mata Atlântica ainda esconde novas descobertas.

A maioria dos exemplares usados na descrição da nova espécie, batizada de Micrurus potyguara, foi encontrada na Mata do Buraquinho, um remanescente de Mata Atlântica localizado dentro do Jardim Botânico de João Pessoa, na capital da Paraíba. Uma floresta urbana, portanto.

De hábitos preferencialmente noturnos, mas que também pode ser encontrada durante o dia, a cobra coral verdadeira de pequeno porte pode chegar até 1 metro e 20 centímetros de comprimento e alimenta-se de presas cilíndricas como anfisbenideos, conhecidas como cobra-duas-cabeças.

Um dos responsáveis por esta descoberta foi o biólogo Dr. Gentil Alves Pereira Filho.

Confira o restante da matéria no site: http://www.oeco.org.br/


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Notícia: Estados Unidos criará maior santuário marinho do mundo

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou que administração norte-americana vai criar o maior santuário marinho do mundo, onde, numa vasta extensão do oceano Pacífico, será banida a pesca comercial e a exploração mineira e petrolífera.
No total, perto de 200.000 quilómetros quadrados no centro-sul do Pacífico vão ficar interditos à pesca marinha. A Casa Branca anunciou ainda a criação de uma nova força de intervenção para combater a pesca ilegal e os produtos marinhos contrabandeados que conseguem chegar aos supermercados norte-americanos.
A nova reserva marinha, cujos limites ainda não estão totalmente definidos e só serão estabelecidos depois de consultas com peritos marinhos, pode expandir as áreas protegidas em volta da Pacific Remote Islands Marine National Monument, que foi criada pelo presidente George Bush.
Esta área, que rodeia sete ilhas não habitadas e vários atóis sob o controlo norte-americano, contém alguns dos ambientes marinhos mais primitivos do mundo.
Quanto à nova força marinha para combater a pesca ilegal, as autoridades norte-americanas esperam que possa estar operacional no final deste ano. A proposta de Obama inclui ainda sistemas para acabar com o contrabando de produtos marinhos, alimentos marinhos mal embalados ou embalados como um produto diferente, que muitas vezes é uma maneira de encobrir a pesca ilegal.
Apesar de as quotas de pesca que estão a ser implementadas em muitos países, os esforços actuais não estão a ser suficientes para combater o problema da caça ilegal. Estima-se que cerca de 20 a 32% das importações de alimentos marinhos feitas pelos Estados Unidos provenham da pesca ilegal. O estabelecimento de zonas interditas a pesca vai permitir proteger as populações marinhas e a regeneração dos stocks de peixe à beira do colapso.
Fonte: GreenSavers
Mais informações: WashingtonPost

terça-feira, 17 de junho de 2014

Evento: II Encontro Regional de Ecologia - II ERECO

O II Encontro Regional de Ecologia (Ereco-NE) que se realizará entre os dias 15 à 19 de Julho de 2014 no Campus IV da UFPB (Rio Tinto) tem o objetivo de reunir estudantes, professores, pesquisadores e o público em geral para expor suas ideias, compartilhar informações e ampliar seus conhecimentos sobre o meio ambiente como um todo. Além de palestras, mesas redondas, minicursos, oficinas e apresentações de trabalhos científicos de temas diversificados, o evento também trará espaço lúdico, atividades culturais durante o evento visando assim, uma melhor interação entre os participantes.      

A primeira edição do ERECO - NE foi realizada por estudantes de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN- Natal, desta vez, a iniciativa parte dos estudantes do curso de Ecologia da UFPB- Campus IV - Rio Tinto, os quais fizeram parte da comissão organizadora do I e II ENECO - PB (Encontro de Ecologia da Paraíba)

Nessa segunda edição definimos o tema do evento como: Recursos hídricos e meio ambiente: uma questão de sobrevivência. A ideia surge levando em conta a importância desse recurso tanto para o meio ambiente, quanto para o consumo humano principalmente no Nordeste, região a qual enfrenta constantemente períodos de seca e estiagem. 


segunda-feira, 16 de junho de 2014

Artigo: Efeito de casca de camarão, hidrolisado de peixe e quitosana no controle da murcha de Fusarium oxysporum f.sp. chrysanthemi em crisântemo

Autores: Zayame Vegette Pinto, Wagner Bettiol & Marcelo Augusto Boechat Morandi
Periódico: Tropical Plant Pathology. Vol. 35, 1, 016-025.
Ano de publicação: 2010
Petiano Responsável: Ana Karolina Rodrigues

Plantação de crisântemo (Chrysanthemum morifolium L.)
O mercado de utilização de resíduos da pesca é uma das áreas que apresentam crescente desenvolvimento nos últimos tempos, não apenas por maximizar o lucro dos produtores, mas também pelo fato de que encontrar uma utilização para esses resíduos em alguma atividade, no lugar de descarta-los no meio ambiente, é uma opção excelente para diminuir a poluição causada pelas indústrias de processamento. O artigo mostra um experimento que busca observar a possível utilização da casca de camarão e hidrolisado de peixe na agricultura, contribuindo para o controle da murcha de Fusarium oxysporum f.sp. chrysanthemi em crisântemo (Chrysanthemum morifolium L.). Esse patógeno é de difícil controle e não existe fungicida registrado, nem cultivares resistentes disponíveis no Brasil. Enquanto o crisântemo está entre as plantas ornamentais de maior importância no Brasil. Os resultados obtidos nesse trabalho mostram que a introdução de resíduos da pesca, de fato é uma técnica viável, contanto que seja manejado com as concentrações corretas e com o tipo de resíduo específico para aquele patógeno.

Para visualização completa do clique aqui



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