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sábado, 9 de março de 2013

Artigo: Fogo e emissão de gases de efeito estufa dos ecossistemas florestais da Amazônia brasileira


Autor: Philip Fearnside
Periódico: Estudos avançadosAno: 2002
Petiana Responsável: Gizele Lizete


O fogo na amazônia brasileira é responsável pela emissão de grandes quantidades de gases de efeito estufa por vários processos distintos, incluindo a queimada de floresta nas áreas que estão sendo desmatadas para agricultura e pecuária, incêndios florestais e queimada de capoeiras, pastagens, e diferentes tipos de savanas.

As queimadas que acompanham o desmatamento determinam as quantidades de gases emitidas não somente da parte da biomassa que queima, mas também da parte que não queima. Quando há uma queimada, além da liberação de gás carbônico (CO2), são liberados também gases-traço como metano (CH4), monóxido de carbono (CO) e nitroso de oxigênio (N2O). A parte da biomassa que não queima na queimada inicial, que é quente, com chamas, também será oxidada. Parte disto ocorre por processos de decomposição (com alguma emissão de CH4 pela madeira consumida por cupins) e parte pelas requeimadas (queimadas das pastagens e capoeiras, que também consomem os remanescentes da floresta original ainda presentes nas áreas), queimadas estas de temperatura reduzida, com formação de brasas e maiores emissões de gases-traço.

As quantidades de gases de efeito estufa liberadas pelo desmatamento são significantes tanto em termos do impacto presente quanto do potencial para contribuição a longo prazo com a continuação do desmatamento da vasta área de florestas restante no Brasil. A forma em que são calculadas as emissões pode ter um grande efeito sobre o impacto atribuído ao desmatamento. As emissões líquidas comprometidas e o balanço anual de emissão líquida (ou, mais simplesmente, o "balanço anual") são dois índices importantes para expressar o impacto do desmatamento sobre o efeito estufa.

Emissões líquidas comprometidas representam a contribuição a longo prazo para transformar a cobertura florestal em uma nova paisagem, usando como base de comparação o mosaico de usos da terra, resultado de uma condição de equilíbrio criada por projeção das tendências atuais. Isto inclui emissões de decomposição e de requeimada dos troncos que não queimam quando a floresta é derrubada e queimada inicialmente (emissão comprometida), e absorção de carbono pelo crescimento de florestas secundárias em locais abandonados depois de uso em agricultura e em pecuária bovina (absorção comprometida) (Fearnside, 1997a).

A emissão líquida comprometida considera as emissões e absorções que ocorrerão à medida em que a paisagem se aproximar a uma nova condição de equilíbrio em uma determinada área desmatada. Aqui, a área considerada corresponde aos 13,8 x 103 km2 da floresta amazônica que foram cortados no Brasil em 1990, o ano de referência para os inventários nacionais de gases de efeito estufa sob a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança de Clima (UN-FCCC). As "emissões prontas" (emissões que entram na atmosfera no ano do desmatamento) são consideradas juntamente com as "emissões atrasadas" (emissões que entrarão na atmosfera em anos futuros), e também a absorção correspondente pelo recrescimento da vegetação de substituição nos locais desmatados. Não são incluídas as emissões de gases-traço da queima e decomposição de floresta secundária e de biomassa de pastagem na paisagem de substituição, embora sejam incluídos gases-traço e fluxos de gás carbônico para emissões que se originam de remanescentes da biomassa da floresta original, perda de fontes e sumidouros de florestas intactas, e estoques de carbono do solo. A emissão líquida comprometida é calculada como a diferença entre o carbono presente na floresta e na paisagem de substituição em equilíbrio, com fluxos de gases-traço calculados com base nas frações da biomassa que queimam ou se decompõem por diferentes processos.

Em contraste com a emissão líquida comprometida, o balanço anual considera as liberações e absorções de gases de efeito estufa em um determinado ano (Fearnside, 1996a). O balanço anual considera a região inteira (não apenas a parte desmatada em um único ano) e os fluxos de gases entrando e deixando a região, ambos por emissões de áreas recentemente desmatadas e pelas emissões e absorções "herdadas" dos desmatamentos em idades diferentes na paisagem. Emissões e absorções herdadas são os fluxos que acontecem no ano em questão, resultado de atividade do desmatamento em anos anteriores: por exemplo, da decomposição ou da requeimada de biomassa remanescente da floresta original. O balanço anual também inclui gases-traço da queima e decomposição de floresta secundária e de pastagens.

O balanço anual representa uma medida instantânea dos fluxos de gases de efeito estufa, entre eles o gás carbônico. Embora tais cálculos sejam feitos em uma base anual, eles são aqui chamados de "instantâneos" para enfatizar o fato de não incluírem as conseqüências futuras de desmatamento e de outras ações que ocorram durante o ano em questão.

Neste trabalho são atualizadas estimativas anteriores das emissões líquidas comprometidas (Fearnside, 1997a) e do balanço anual (Fearnside, 1996a). Incorporam-se nele informações adicionais sobre densidade de madeira (Fearnside, 1997b), biomassa debaixo do solo, biomassa de cerrado (Graça, 1997), liberação de carbono do solo (Fearnside & Barbosa, 1998), eficiências de queimada, formação de carvão entre outros fatores.

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