Por Ricardo Baitelo
Tem sido uma constante a perspectiva de racionamentos de energia no
Brasil a cada cinco ou seis anos. Se por um lado o perfil essencialmente
hidrelétrico da nossa matriz contribui para baixas emissões de gases de
efeito estufa, por outro a irregularidade de chuvas sempre ocorreu e
suas consequências já deveriam ter sido assimiladas em um processo de
prevenção e planejamento.
Em 2008, última vez em que a falta média de chuvas trouxe o índice dos
reservatórios a níveis baixos, estávamos a salvo da falta de energia
pela interligação do sistema, que possibilitou o envio de energia de uma
ponta a outra do país. Desta vez, tivemos mais sorte. A desaceleração
da economia reduziu o aumento da demanda de energia. Mesmo assim,
problemas de atraso na operação de usinas e gargalos no sistema de
transmissão contribuíram para que estivéssemos em situação crítica
novamente.
Ainda que o racionamento não se concretize, a intensificação do uso das
térmicas para segurar o nível dos reservatórios traz, além de óbvios
efeitos colaterais ao meio ambiente, impactos à conta de luz.
Em 2008 a conta extra de combustíveis para termelétricas superou os R$ 2
bilhões. Desta vez, em apenas quatro meses, gastamos R$ 1,6 bilhões. Se
o valor tivesse sido investido em energia eólica, seria possível
instalar 450 MW.
No curto prazo, as alternativas emergenciais serão sempre mais caras e
insensatas. Mas no longo prazo, vale refletir sobre as ações para evitar
que o filme se repita.
O governo insiste em um modelo que pouco aproveita as vantagens de
fontes renováveis de energia. Neste padrão, as hidrelétricas são
complementadas pelas termelétricas, deixando em terceiro plano fontes
mais limpas que teriam melhores condições econômicas de fazer esse
papel. Pode-se argumentar que as eólicas vêm ganhando participação na
matriz nacional, mas se a conexão de mais de 1.000 MW em parques eólicos
não estivesse atrasada, estaríamos usando muito menos energia
termelétrica.
"E
a energia solar, com seu potencial virtualmente infinito nos telhados
de casas e edifícios, contribui com menos de um milésimo na energia
produzida pelo país".
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No campo da biomassa, apenas 10% das usinas de etanol aproveitam o
bagaço da cana para gerar energia para o país. Com isso, é desperdiçada
uma quantidade de energia equivalente a 3 usinas de Belo Monte. E a
energia solar, com seu potencial virtualmente infinito nos telhados de
casas e edifícios, contribui com menos de um milésimo na energia
produzida pelo país.
A julgar pelas medidas aventadas nas últimas semanas, o ritmo de,
chamemos, avanços com retrocessos continuará. É possível que o modelo de
leilões de energia seja revisto, de forma a contemplar a regionalidade
de fontes de energia. Mas é certo que mais térmicas operarão
regularmente no sistema, despejando mais CO2 na atmosfera e repassando a
conta para todos os consumidores.
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